Os produtores de café do Mato Grosso estão começando a colher os frutos dos investimentos realizados com a adoção de tecnologias e capacitações voltadas para o desenvolvimento desta cadeia produtiva no estado. Por meio do programa de revitalização da cafeicultura do Governo de Mato Grosso, a Embrapa Rondônia, parceira nesta ação, propôs e foi colocado em prática um conjunto de soluções tecnológicas para o aprimoramento da cafeicultura.
As ações envolveram a introdução de cultivares clonais de café desenvolvidas pela Embrapa, mais produtivo e com melhor resposta aos tratos culturais – antes o plantio era, em sua maioria, por sementes –, foram incentivadas a adoção de técnicas adequadas de manejo de poda, irrigação, adubação e boas práticas de colheita e pós-colheita. Foram disponibilizadas mais de 130 mil estacas de cultivares de café canéfora (robusta e conilon) , desenvolvidas pela Embrapa Rondônia para a produção de mudas e implantação de unidades demonstrativas e jardins clonais. Isso proporcionou aos produtores a obtenção de materiais genéticos de maior qualidade. Além disso, está sendo realizada a capacitação continuada de técnicos da cadeia do café, que têm multiplicado esses conhecimentos aos produtores no campo.
Para Frederico Botelho, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa, a capacitação dos técnicos foi o ponto chave da revitalização da cafeicultura no Mato Grosso. “Com o foco no processo de atualização do conhecimento dos técnicos para a adoção de tecnologias, eles levaram aos produtores tecnologias e boas práticas que foram adotadas e, com isso, foi possível contribuir com evolução produtiva que estamos vivenciando na cafeicultura do estado hoje”, explica.
Arquivo Lucas Miiller – Adoção de tecnologias e capacitações promovem o desenvolvimento da cadeia produtiva do café no Mato Grosso
Foram capacitados 100 técnicos para atender, atualmente, 50 municípios e mais de 700 produtores são atendidos diretamente pelo programa no estado, ou seja, quase 30% dos cafeicultores do Mato Grosso fazem parte desta ação. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2017, o estado conta com 2.600 produtores de café. A espécie cultivada no estado é a canéfora, com as variedades conilon e robustas, assim como plantas híbridas destas duas variedades botânicas.
De acordo com George Luiz de Lima, superintendente de Agricultura Familiar do Mato Grosso – SEAF, o impacto na cadeia produtiva do café já pode ser observado. “Os resultados deste trabalho já podem ser vistos nos dados que mostram tanto a expansão da cultura como o aumento da produção e produtividade. A contribuição da Embrapa com os Robustas Amazônicos em Rondônia foi referência para o Mato Grosso e queremos trilhar este caminho”, afirma George de Lima.
No período de 2015 a 2020, a produção de café no estado aumentou em 34%, chegando a uma estimativa de 168,8 mil sacas para a safra 2020. A produtividade aumentou 171%, saindo de 6,29 sacas por hectare na safra 2015, para uma expectativa de 17,05 sacas por hectares na safra 2020, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab.
O produtor rural Lucas Miiller, é um dos pioneiros na cafeicultura no município de Nova Bandeirantes – MT. Há 20 anos ele trabalha com o café, mas conta que só nos últimos anos está conseguindo colher os frutos de tanta dedicação. Ele apostou no uso de tecnologias e boas práticas de manejo e o salto foi grande.
Em 2005, a média de produtividade de sua lavoura era de 12 a 15 sacas por hectare e ele tinha, à época, oito hectares com café em produção, de onde ele obteve renda de R$1.800 na colheita. Em 2019, com metade da área em produção – quatro hectares – o produtor atingiu a média de 120 sacas por hectare e obteve mais de R$60 mil na colheita. Ele conta o segredo. “É a tecnologia! Eu troquei a lavoura de sementes por clones, comecei a fazer as podas, adubação e irrigação conforme o técnico me passava e deu nisso aí, conhecimento é sempre boa coisa pra gente. Estou conseguindo custear os estudos dos filhos, consegui comprar um carrinho e agora quero dobrar minha área de produção, para oito hectares”, comemora Miiller.
O produtor é um dos atendidos pelo programa que tem levado assistência técnica qualificada aos produtores do Mato Grosso. Segundo Thiago Tombini, engenheiro agrônomo da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Empaer-MT, é um pacote de tecnologias que tem sido adotado e que está começando a transformar o setor cafeeiro do estado e a vida das 2.600 famílias que atuam na cafeicultura. Tombini é quem assiste o produtor Lucas. “As tecnologias trazidas pela Embrapa estão sendo muito bem aceitas pelos produtores, eles estão obtendo resultados e ficam ainda mais animados com a produção expressiva”, destaca Tombini.
Técnicos do Mato Grosso participam de capaditação prática sobre cafeicultura, oferecida pela Embrapa Rondônia
Atuação da pesquisa e transferência de tecnologias
Desde sua criação, em 2015, este programa conta com a parceria da Embrapa, por meio de duas unidades descentralizadas: Embrapa Rondônia e Embrapa Agrossilvipastoril, no Mato Grosso. A partir do Acordo de Cooperação Técnica com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar e Assuntos Fundiários do Mato Grosso – SEAF, têm sido realizadas atividades de pesquisa e validação das cultivares de café desenvolvidas pela Embrapa Rondônia e a implantação de jardins clonais para que os produtores possam ter acesso a mudas com qualidade. O Acordo também tem viabilizado as capacitações de técnicos da Empaer-MT e das secretarias municipais participantes do programa, que atuam na assistência técnica dos cafeicultores. Já foram realizados quatro módulos de capacitação, abrangendo todas as etapas do sistema de produção de café.
A Embrapa também tem ajudado a promover palestras e dias de campo para os agricultores e realizou também o diagnóstico da cadeia agroindustrial do café no estado, tendo como foco os dez municípios que participavam do Programa desde a sua fase inicial. O objetivo foi caracterizar a situação atual e o nível tecnológico dos setores de produção e comercialização de café nesses municípios, analisando também os aspectos institucionais e de consumo.
De acordo com George Luiz de Lima, superintendente da SEAF, de 2016 a 2020, o estado investiu cerca de R$4 milhões no programa e, em 2017, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa aportou mais R$6 milhões para a cafeicultura do estado. Todo este potencial da cafeicultura para a agricultura, fez como que cadeia do café se tornasse prioritária no plano estadual de agricultura familiar. Segundo ele, as parcerias realizadas com prefeituras, que criaram programas municipais em sinergia com o programa estadual, também estão fortalecendo as ações em prol do café no estado.
Os trabalhos envolvem treinamentos de técnicos, estruturação de viveiros municipais, disponibilização de mudas, calcário e fertilizantes, aquisição e veículos para assistência técnica e extensão rural e demais atividades do programa e apoio a eventos voltados à cafeicultura, assim como disponibilização de patrulhas agrícolas às prefeituras para atendimento à cafeicultura.
Estacas de cultivares de café canéfora (robusta e conilon) desenvolvidas pela Embrapa Rondônia para a produção de mudas e implantação de unidades demonstrativas e jardins clonais no Mato Grosso
Programa de Revitalização da Cafeicultura no Mato Grosso
O programa de revitalização da cafeicultura no Mato Grosso, criado em 2015 com o nome Pró Café MT, em 2019 foi reformulado, passando a se chamar Programa Mato Grosso Produtivo – Café. Tem como objetivo principal fomentar e fortalecer a cadeia produtiva do café no estado, como alternativa sustentável de geração de renda para conter o desmatamento nos municípios.
Para atingir esses resultados, o programa foi estruturado em três eixos centrais. Um deles é o aumento da produção, produtividade e melhoria da qualidade do café por meio da difusão de boas práticas de produção de mudas, plantio, tratos culturais, colheita, pós-colheita e beneficiamento. O outro é a renovação e modernização gradativa das lavouras por meio de cultivares clonais certificadas e recomendadas pela Embrapa. O terceiro é a aproximação do agricultor familiar da assistência técnica e extensão rural e também do mercado, incentivando a comercialização e o consumo do café produzido no estado.
Renata Silva (MTb 12361/MG)
Embrapa Rondônia