Dia Nacional da Consciência Negra

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Neste 20 de novembro, quando o Brasil celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, a FENAJ reafirma o seu compromisso com os princípios e propostas da Carta da Igualdade de Maceió, resultado do I Encontro Nacional dos Jornalistas pela Igualdade Racial (I ENJIRA), referendada no 36º Congresso Nacional dos Jornalistas, e pede aos sindicatos e aos jornalistas brasileiros o empenho na reflexão do tema para que possamos avançar na luta pela igualdade racial como fundamental para a democracia.

As representações dos (as) negros (as) e grupos historicamente discriminados no jornalismo e a destinação de verbas públicas para as mídias negras foram alguns dos temas que ordenaram as reflexões tecidas no I ENJIRA e nos estimularam a pensar no projeto de democracia que cimenta o desenvolvimento deste país. Durante o debate, também sublinhamos, enfaticamente, a existência de uma ditadura estética eurocêntrica na imprensa, a reduzida presença de jornalistas negros (as) nas redações e a necessidade de inclusão da temática étnico-racial no currículo das faculdades de jornalismo.

Tornou-se moeda corrente a afirmação de que a democracia, um dos motes do 36º Congresso, não se coaduna com racismo. Discutir a situação dos (as) jornalistas, do jornalismo e da democracia deve obrigatoriamente nos levar a assumir a superação do racismo brasileiro como nexo prioritário para o exercício do bom jornalismo, calcado nos princípios de transparência e de combate a toda sorte de desigualdades.

Não se põe mais em questionamento o fato de o Brasil ser um país marcadamente racista. Alguns indicadores não deixam dúvida: o nosso IDH fica na margem do 79º lugar no ranking mundial. Quando desagregamos essa posição por raça, a população negra fica no 114º lugar e a branca no 38º lugar. Mulheres e homens negros permanecem ganhando menos que homens e mulheres brancas. As altas taxas de extermínio da juventude negra, especialmente dos homens, são uma tragédia social. Alagoas, que sediou nosso 36º Congresso, é o estado que mais mata jovens negros no Brasil.

Como podemos, no território da atividade jornalística, promover a equidade e combater o racismo? Uma vez que o jornalismo é atividade que funda e não apenas relata a realidade, de que modo podemos transpor as assimetrias raciais nos sistemas de informação e nos regimes de visibilidade trazidos à superfície pelas notícias que manufaturamos cotidianamente?

Sabemos, igualmente, das profundas modificações nos processos de sociabilidade. Essas mudanças não são pensáveis sem o papel fundamental que as mídias desempenham na visibilidade do poder. A opinião pública se forma em parte graças ao que hoje chamamos de mídia.

Ora, se concordamos quanto a esse estatuto da mídia, em geral, e do jornalismo, em particular, constitui-se urgência política e um imperativo ético que a Federação Nacional dos Jornalistas e os sindicatos possam cada vez mais aprofundar o debate em torno das assimetrias raciais, com propostas exequíveis no campo de ação dos (as) jornalistas engajados (as) no combate à discriminação e ao racismo. Temos 31 sindicatos e apenas 8 (oito) comissões de jornalistas pela igualdade racial, o que ainda é pouco em face da magnitude do racismo no tecido social. É preciso que a Federação e os sindicatos sejam indutores de políticas capazes de incidir sobre as desigualdades sociais com fundamento racial. Necessário se faz a reflexão em torno do imaginário que governa todos nós, negros (as) e brancos (as), e que não tenciona os papéis subalternizados sobrerepresentados em grupos raciais não hegemônicos.

Acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, são absolutamente cristalinos no que diz respeito ao compromisso do Estado brasileiro, bem como de organismos e categorias profissionais, em superar o drama racial que ainda experimentamos como forma de alcançar, efetivamente, o desenvolvimento pleno capaz de consolidar a democracia.

Reafirmamos, neste Dia Nacional da Consciência Negra, o nosso compromisso com a promoção da igualdade étnico-racial e de gênero, entendendo que os grupos historicamente discriminados tem o direito de desfrutar do binômio justiça e desenvolvimento.

Fonte: Fenaj